RESENHA: A HISTÓRIA SEM FIM (SEM SPOILER)

Título: A história sem fim

Título Original: Die Unendliche Geschichte

Autor: Michael Ende

Editora: Martins Fontes

Sinopse

A História Sem Fim é a mágica aventura de um garoto solitário que através das páginas de um livro passa para o reino da fantasia. Nesta terra imaginária, numa busca original e cheia de perigos, Bastian descobre a verdadeira medida de sua própria coragem e descobre sua capacidade para amar. O texto impresso em duas cores verde e vinho, as belas ilustrações das aberturas dos capítulos completam o clima de encantamento que envolve o leitor.

 



 A leitura de uma obra é sempre única e isso fica evidente quando são abertas as páginas iniciais de um livro. Embora o design seja um propulsor, quer dizer, uma motivação para a escolha da leitura esse não é o único fator. No entanto, nesse exemplar, as conotações são um pouco diferentes, pois a capa em si é extremamente significativa e traduz, após iniciar a leitura, o eixo principal da narrativa. Sendo assim, a capa dialoga com a trama. Quando se começa a leitura o símbolo impresso na encadernação passa a ter um significado, pois são duas cobras que traduzem a essência do que é o reino de fantasia.

        Antes de começar meus apontamentos são essenciais ressaltar algumas peculiaridades. A narrativa é envolvente e contagiante, mas compreendo as razões pelas quais nem todos se sentem compelidos a ler. Não é um exercício fácil compreender o reino de fantasia e toda a imaginação que permeia esse mundo, que é ao mesmo tempo mágico e complexo. Então, para alguns os primeiros capítulos podem não ser tão interessante, porém quando toda essa sedução começa a se desenrolar é difícil resistir ao fascínio.

        A narrativa é bem peculiar, uma vez temos no primeiro momento a leitura realizada por Bastian, que não é o único personagem principal, e depois Bastian é inserido na trama e esse ponto de vista é alterado, ou seja, o ledor da “A história sem fim”, nesse caso Bastian, passa ser um protagonista. Cabe antes destacar que Bastian foge dos estereótipos de alguns livros, já que fisicamente ele é “gordinho”, tem as pernas tortas, aparenta ter entre 10/ 11 anos e ama ler. O mesmo sofre bullying na escola, ama contar histórias e tem o hábito de ter diálogos em voz alta consigo mesmo. Logo, ao ter em suas mãos o livro com o título “a história sem fim”, perpassamos por alguns outros “protagonistas” que são muito importantes para todo o desenvolvimento do enredo. Portanto, temos personalidades do reino de fantasia que irão nos conduzir para o mundo da imaginação, tais como: Fogo-fátuo, Cairon e Atreiú.

        Conforme os capítulos vão avançando somos apresentados a diversas criaturas maravilhosas e vamos descobrindo qual é a missão de Atreiú (temos sua perspectiva sobre o mundo de fantasia até uma determinada parte do livro). O reino de fantasia está sendo consumido pelo nada e, nesse momento, temos a primeira critica do autor e/ou auto-reflexão. O autor tem o seu olhar voltado para como a contemporaneidade tem alterado a vida social e como isso tem afetado as crianças, pois em decorrência da incredulidade humana a imaginação e a fantasia no mundo dos pequenos vão deixando de acontecer. O mundo de faz de conta é essencial para que meninos e meninas cresçam de forma saudável e, paralelamente a isso, para que o reino de fantasia exista. Desse modo, vemos o reino de fantasia ser apagado pouco a pouco enquanto um filho do homem não der um novo nome à imperatriz criança, visto que para isso é necessário acreditar.

        A aventura com Bastian começa quando ele percebe que está no livro que ler e de forma simples e mágica esse menino é transportado para o enredo, se tornando parte do reino de fantasia. Nesse instante Bastian vive aventuras e começa a demonstrar como é o homem e a sua essência. Há uma busca constante e continua para uma satisfação por meio dos desejos que nunca é saciada.

        O autor tem momentos de devaneio ao colocar Bastian como o senhor de suas ações, isto é, como a busca incansável pela satisfação dos desejos pessoais pode transformar a natureza do homem, passando de uma alma inocente para uma ambição sem limites. A comparação do tomo com os seres humanos enceta ao identificar que quando perdemos a inocência e inflamos o nosso ego negligenciamos emoções e nos tornamos egocêntricos. Essa análise e reflexão do autor dialogam com outros filósofos, dos quais dois tornam-se mais evidentes: Arthur Schopenhauer e Karl Marx.

        Ao perder suas maiores riquezas e não se dar contar dessa circunstância surge em Bastian uma necessidade de regressar ao inicio, a pureza, a infância. A ingenuidade de uma criança é simples e permeada de pureza, mas também há a necessidade de ser cuidado justamente por não haver maldade e ter dificuldade de enfrentar o perigo. A dama Aíuola surge para tutelar essa criança que já foi adulto por tempo demais. E, nesse momento, vemos no texto o prazer da simplicidade, do brincar e do ser cuidado. A dama Aíuola, uma árvore com forte inclinação maternal, permite que em meio às mudanças, isto é, que ao voltar à infância Bastian possa se sentir acolhido e protegido, ações essa que deveria ser oferecido para toda criança.

Por conseguinte, Bastian precisa buscar sua verdadeira vontade e descobre que é o amor. Nessas circunstâncias,  o menino Bastian em sua inocência precisa encontrar o seu sonho. Somos transportados então para outro cenário e aprendemos que amar é renunciar a si mesmo. Por fim, essa corrida criativa proporciona uma meditação que esta fundamentada na ponderação da ideia principal: conscientização que somos amados, fazemos falta e que o “reino da fantasia” pode ser acessado por diferentes formas.

   


 

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