Resenha: Olhos que condenam (Minissérie da Netflix) - Sem spoiler


Sinopse
Cinco adolescentes do Harlem vivem um pesadelo depois de serem injustamente acusados de um ataque brutal no Central Park. Baseada em uma história real.

Outras informações

Estrelando:Asante Blackk, Caleel Harris, Ethan Herisse
Criação:Ava DuVernay

Jharrel Jerome, Niecy Nash e Aunjanue Ellis foram indicados ao Emmy pela atuação nesta série dirigida por Ava DuVernay.

Minhas impressões

O maior problema não é que os depoimentos não coincidam. É que nenhum deles bate com os fatos centrais do crime. (Olhos que Condenam)
        A injustiça é uma via comum dentro de vários sistemas de governo e, consequentemente, em vários países. A desigualdade é um estereótipo usado para ressaltar as diferenças e alimentar um preconceito que promove essa peculiaridade. Contudo, ao assistir e refletir que as pessoas realmente são vitimas desse panorama é ao mesmo tempo impactante e emocionante.



        A minissérie “olhos que condenam” retrata como a sociedade fundamenta-se em características particulares para impor rótulos que tem como alicerce a etnia, classe social e outras particularidades com o intuito de cultivar padrões para justificar suas decisões. O que desejo dizer é; dentre os quatro episódios é evidente que as acusações dos polícias e da promotoria no caso “Central Park Five” foram subsidiados no racismo, ou seja, era necessário solucionar o caso, e por isso era essencial ter um culpado.


Veja… quando a polícia quer uma coisa, fará qualquer coisa. Está ouvindo? Qualquer coisa. Dirão mentiras sobre nós. Nos prenderão. Nos matarão.(Olhos que Condenam)

        Por essa vertente, a melhor explicação para esse caso é que os meninos estavam no lugar errado, mas as autoridades fizeram um complô para que tudo estivessem no lugar certo e assim a promotoria e o Estado pudesse acusar. Dessa maneira, toda a história é baseada em fatos reais e retratam a vida de cinco rapazes que tinham de 14 a 16 anos e foram acusados de um crime contra uma mulher branca que corria no Central Park. Essa mulher, Trisha Meili, foi estuprada e agredida. Assim, em 1989, após sair do hospital Trisha não lembrava os fatos da violência sofrida e, por isso, não pode inocentar os meninos que foram condenados a cumprirem a pena de no mínimo 6 anos e no máximo 13 anos. Aliás, cabe enfatizar que a vitima teve sequelas gravíssimas, tais como: a visão, a coordenação motora e a audição comprometida.

As pessoas nos odeiam. Elas odeiam sua inteligência. Odeiam a sua beleza. Elas nos odeiam, mas nós não vamos nos odiar.(Olhos que Condenam)

        Com uma sensibilidade incrível a diretora Ava DuVernay conseguiu dirigir um filme que remete o telespectador a várias reflexões e análises, da mesma forma que tem a sutileza de pormenorizar ações, expectativas, fatos, provas e outras minúcias que não foram consideradas durante a investigação. É evidente que os rapazes do Halem foram acusados injustamente e isso é sublinhado pela certeza deles serem negros e hispânicos. Uma característica nessa conjectura é que esses adolescentes foram submetidos a horas de interrogatório, ficaram sem comida, sem ir ao banheiro e sem a presença dos responsáveis. Após tanto tempo de pressão eles foram induzidos a confessarem e a acusarem os outros meninos, mesmo sem se conhecerem.



        Toda essa idiossincrasia tem algumas especificidades. Posto isto, vemos o atual presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, na época empresário, pagando anúncios nas revistas e jornais para que a pena de morte voltasse. Em outras palavras, o intuito era que os adolescentes fossem condenados dessa forma. Nessas notas também eram colocados dados dos suspeitos como telefone e endereço. Além dessa minissérie a biografia dos “cinco” já havia sido levada para o cinema através do filme “The Central Park Five” no ano de 2012 pelo diretor Ken Burns.


        Os cinco são: Antro McCray, Kevin Richardson, Korey Wise, Raymond Santana e Yusef Salaam. Todos foram condenados injustamente, perderam as fases de sua adolescência e a passagem para a vida adulta atrás da prisão. Em vista disso, quatro adolescentes foram para reformatórios juvenis e mesmo com toda a adversidade e arbitrariedade que foram submetidos (e foram muitos) não se compara com iniquidade imposta a Korey, uma vez que ele teve que ficar preso em uma penitenciária para adultos. Sua jornada foi no mínimo traumatizante, já que os presidiários achavam que dentre tantos crimes os piores eram/ são estupro e pedofilia, e, por isso, queriam matar o “estuprador” do crime no Central Park. Esse cenário só serve para acentuar como Korey foi injustiçado, visto que, ele só foi acompanhar o amigo Yusef na delegacia e em poucas horas toda a sua vida mudou. O último episódio demonstra apenas uma parte da sua agonia, e como acentuado pela diretora em um documentário da própria Netflix[1], 1 hora não deu para retratar todo o sofrimento desse homem.

Tudo que faço o dia todo é te amar. Nunca pense que está sozinho. Estou passando por isso com você. Se você chorar, eu choro. Se ficar bravo, eu fico brava. Se tiver medo, eu tenho medo. Se estiver livre, eu também estou. Você e eu, sempre.(Olhos que Condenam)

       Por fim, o intuito dessa resenha não foi abordar as questões cinematográficas que envolvem o filme. Nesse sentido, toda a perspectiva foi ponderar sobre como as atitudes errôneas, como o racismo, pode reverberar e mudar uma vida. Essa meditação assinala como a “justiça” ainda precisa avançar e rever suas atitudes e posturas dentro de um tribunal. A investigação dos fatos e de circunstancias são pilares para decisões precisas e, por consequência, justas.




[1] Oprah Winfrey Presents: When They See Us Now

PS: As imagens usadas no texto são dos homens acusados injustamente e não dos atores usados para a interpretação.
Como destacado na sinopse é baseado em uma história real.



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15 comentários:

  1. Olá, tudo bem? Não conhecia essa minissérie ainda, mas fiquei bem curiosa para assistir depois de ver tua resenha. Adorei a dica!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  2. Olá, tudo bem?

    Eu não conhecia a série, mas a Netflix lança muito conteúdo, isso é bom, só que sempre alguma obra passa despercebida. Adorei a sua crítica, ficou bem legal!
    Abraço!

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  3. Eu estava louca para assistir esta minissérie mas não fazia ideia que se tratava de uma obra baseada em fatos reais. Estou completamente extasiada com essa notícia. Antes eu não fazia ideia do quanto a justiça dos Estados Unidos era tão preconceituosa quando a nossa. Sempre esperamos uma justiça imparcial, ditada por princípios éticos mas que na verdade não tem nada disso envolvido, na maioria das vezes ser pobre, negro, de classe média baixa diz mais sobre você do que o seu real caráter. Com certeza pretendo assistir e me questionar sobre todos esses fatos apontados por esta obra.

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    Respostas
    1. Oi!

      Obrigada pelo comentário, mas estou chegando a conclusão que justiça imparcial é uma utopia!

      Abraços!

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  4. Olá!

    Uau! Eu ainda não conhecia essa minissérie, mas fiquei curiosa. Gosto de coisas que abordam assuntos importantes e que instiga a saber mais a fundo e entender o que se passa com esse mundão!

    Estou te seguindo para acompanhar mais dicas como essa <3
    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  5. Eu vi essa série. Não sei descrever o que eu senti.
    Tá, eu não sou negra mas eu fiquei com tanta raiva daquela louca, que fez aquilo com os meninos e tanta coisa, eles ficaram presos a vida toda sabe?! É muito surreal, não tem dinheiro que pague o que eles perderam da vida. Amei sua crítica!

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  6. Oi, estou com vontade de assistir essa produção. Acho super importante que casos como esse não caiam no esquecimento, para que injustiças baseadas no racismo como a vivida por esses jovens sejam lembradas para não serem repetidas.

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  7. Oi, tudo bem?
    Eu ainda não conhecia esse filme, mas confesso que não pretendo assistir. A história deve ser dolorosa e revoltante, ainda mais por sabermos que é um caso real (e que certamente não foi o único). Só de pensar na injustiça que esses meninos viveram e nas situações que muitos outros enfrentam, dá uma tristeza e falta de esperança na humanidade.
    No entanto, sei da importância de filmes assim para colocar o dedo na ferida e mostrar o quanto atitudes erradas e o preconceito das pessoas pode destruir vidas. Só não pretendo assistir porque realmente não ando com cabeça para ver filmes como esse, ando precisando de coisas mais leves. Mas quem sabe em outro momento né?
    Beijos!

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  8. Oii Verônica

    Tenho visto muito trailer desas série e sempre me deixa curiosa, é uma temática tão atual e triste, realmente é importante que séries assim nos façam refletir e ter mais empatia pelos outros. Ainda quero conferir quando surgir um tempinho livre.

    Beijos, Alice

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  9. Olá, tudo bem? Desde que vi minha amiga elogiando enormemente a minissérie, fiquei mega curiosa, justamente para notar esses fatos que você levantou. Vivemos numa sociedade ainda muito ligada a particularidades próprias, esquecendo da população como um todo, atacando, sendo racista, e acredito que temáticas como essas servem para nos alertar e mostrar uma realidade. Ótima resenha!
    Beijos,
    http://diariasleituras.blogspot.com

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  10. Eu não consegui assistir tudo.
    Essa série realmente mexeu comigo e é ainda mais triste quando sabemos que isso tudo é real.
    Não sei conseguirei retomar, mas vale a discussão

    Sai da Minha Lente

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  11. Olá!
    Eu acredito que seja muito interessante essa série e já estou doida para assistir. Vou tentar me planejar para assistir hoje 😍
    Tenho certeza que é uma série bastante emocionante, ainda mais por se tratar de casos reais..
    Espero gostar bastante.
    Adorei sua indicação, beijos!

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  12. Olá, tudo bem? Eu simplesmente não tive estomago para ver essa série, muito porque sofro racismo diariamente então pra mim acaba sendo dolorido demais, ver essas coisas tão bem retratadas assim, mas em todo caso, acho esse tipo de adaptação muito importante para colocar em pauta assuntos tão necessarios.

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  13. Olá!
    Eu normalmente não costumo ver filme/série assim, porque eu fico muito agoniada e revoltada com coisas assim... Mas adorei como colocou os fatos e as questões que a série traz, são realmente pertinentes e necessárias.

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  14. Eu ainda não conhecia e já adicionei à minha lista, quero assim que tiver um tempinho. Foi uma ótima dica, parece ser intenso e que mexe muito com a gente.

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