Resenha A feira dos casamentos

Título: A feira dos casamentos
Autor: J.W. Rochester
Editora: Correio Fraterno

Um retrato da sociedade russa imperial, quarenta anos antes da Revolução Comunista que originou a União Soviética, no qual os interesses da família se sobrepõem aos anseios do coração, gerando dor e desilusão. O ambiente social é o da alta roda de príncipes, condes e barões, movimentando-se numa sociedade corrupta e corruptora, sofisticada e imoral, a maior parte do tempo. Um tanto amargo, à primeira vista, quando se pensa em todo aquele amplo painel de miséria moral, egoísmo, vaidade e cinismo, pouco a pouco, no entanto, o leitor vai percebendo, nas entrelinhas, a razão de ser do quadro desolador que se arma para contar uma história maior de fortaleza moral, de lealdade, de bom senso, de incorruptibilidade, de pureza, no meio de toda aquela decadência.






            As pessoas geralmente julgam os demais pelos seus gostos, ou seja, o quero dizer é que pelo simples fato de ser um leitor se faz um elo com a questão intelectual. Para isso existem pontos positivos e negativos. Vejo como positivo ser presenteada com livros, e não ligo se os mesmos estão velhos ou caindo aos pedaços, simplesmente os aceito e lhe dou uma nova folhagem, consertando seus “defeitos” e guardando com amor ao lado de seus “irmãos”. Entretanto existe o fato negativo, onde nem perguntam se a pessoa quer o livro, “literalmente” jogam os mesmos em cima do sujeito como se esse tivesse a obrigação de aceitar tal ação. Em meio a livros destruídos, aparecem aqueles que podem ser aproveitados e aqueles que infelizmente o lixo é o destino certo, e cá entre nós: ninguém merece livros didáticos ultrapassados que não acrescentam mais em nada!
            Esse livro foi uma linda jóia encontrada em meio aos “artefatos” citados no parágrafo anterior. Quando recebi esse presente de grego, separei os livros em melhores condições e joguei os que não serviam fora. Demorei para iniciar a leitura, até mesmo porque ele não tem orelhas, e a sinopse e o título não lhe dá o devido valor. Como podem ver na foto ele se encontra bem maltratado, mas qual foi minha surpresa ao ler o baú de tesouros que esse guarda!
            Ao abrir o livro já encontramos algo de diferente dos dias atuais (pelo menos nos livros contemporâneos que li não recordo de ter visto nota de esclarecimento do tradutor), logo de início há “Uma palavra do tradutor”, que explica o seu ponto de vista e sua opinião sobre o autor, o que levou a usar algumas palavras na tradução dentre outras questões não menos importantes. Cabe ressaltar que o livro foi traduzido em 1982, sendo então datilografado, por isso no decorrer da obra encontra-se alguns erros de digitação, mas nada grave.
            Logo no início é apresentada a informação do mesmo ser um romance mediúnico, sendo psicografado por Wera Krijanowski, porém a lerdinha aqui não se ligou nesse pequeno detalhe. Estou esclarecendo consequentemente por que tenho um preconceito literário, infelizmente, e se visse essa indicação não iria ler por achar se tratar de um livro religioso. Salientando que não tenho nada contra o espiritismo, entretanto não é um assunto que desperte a minha curiosidade.  
            Prosseguindo com as observações o livro surpreende, e muito! A história ocorre entre os anos de 1879 e 1892 e sua heroína, Tâmara, passa por situações tão reais no cotidiano de qualquer indivíduo, onde descobre que a sociedade é uma mascara de hipocrisia que se sustenta sobre um fio inimaginável de falso decoro, e julga os sujeitos que a frequentam por status e condição social 
            Durante todo o romance, percebe-se de forma austera a conduta e opinião de Tâmara, que madura por todo o sofrimento que passou, adota uma nova postura e muda drasticamente sua visão sobre aqueles que a cercam. Descobre poucos fiéis na sua dor e em seu estado de espírito deplorável pela pobreza, a maioria distante e com sentimentos de superioridade negligenciam qualquer tipo de amizade existida em tempos anteriores. Claro, que o livro fala do espiritismo, porém de forma tão suave que o leitor não percebe, sendo que esses episódios são sutis e apenas contribui para um melhor entendimento dos sentimentos e conflitos que cercam a personagem, tornando dessa forma um ser humano muito melhor.
            Não cabe influenciar ninguém, o que desejo é ressaltar em como o autor foi engenhoso ao armar todo o cenário, auxiliando as pessoas a enfrentarem seus problemas com motivação, e o mais incrível é que ele não fala de tais acontecimentos de forma aberta, mas as circunstâncias vivenciadas pela protagonista levam a reflexão de condutas diárias. Quero também afirmar que esse não é um livro de auto-ajuda, o que ocorre é que pela sagacidade do escritor são repelidos pensamentos nocivos e surgem princípios e convicções otimistas e esperançosos de benevolência e piedade com o próximo.
            Ao se tratar do título, no primeiro momento, achei injusto para o livro e de certa forma a opinião ainda se mantém. Creio que esse (título) é uma das características que atrair uma porcentagem dos leitores, e apenas quando se ler o enredo e as tramas narradas acontece a compreensão do nome. O autor crítica os casamentos ocorridos nesse século, onde o amor era deixado de lado e aspectos menos importantes tinham grande consideração, sendo totalmente comerciais. Durante o decorrer da leitura é pregado o amor, a ética, a bondade e portanto apontado os defeitos e a maldade presente no alpinismo social.
            A mediocridade da sociedade é algo constante, ouso dizer, em “todas” as sociedades, e claro, principalmente no Brasil onde o interesse pessoal beira a irritabilidade dos nervos daqueles que são honestos. A dura desaprovação do autor, em todos os aspectos do ser humano levam há análises fundamentais para o bom convívio da coletividade, onde o critério inevitavelmente acontece através da troca, não obstante a busca pela solidariedade, compaixão, amor, sensibilidade e outros sentimentos precisam guiar os cidadãos, sendo esse seres melhores.
            Pode-se concluir que em meios a diálogos extensivos, capítulos enormes e personagens dramáticos, essa relíquia é uma obra para ser guardada com o mesmo cuidado da preciosidade do diamante. Termino com as palavras de Tâmara: “Sim. Os livros são os mais dignos companheiros dos seres humanos. Eles elevam o espírito, cultivam o saber, expulsando qualquer pensamento ocioso e são escudo contra o tédio.”



            

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24 comentários:

  1. Que resenha maravilhosa! Deu até vontade de ler o livro! Lindo seu amor pelos livros! Beijos!
    http://www.lostgirlygirl.com

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  2. Olá.

    Nossa que resenha e essa? Ela está ótima parabéns. Gostei mesmo. Me deu vontade de ler mais quem sabe eu não coloquei ele na pilha de livros pra ler não e mesmo?!

    Beijos
    Books And Carpe Diem

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    1. Muito obrigada, com o tempo ficamos melhores ao escrever nossas opiniões. Fiquei muito feliz com seu comentário e novamente obrigada!

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  3. A sinopse junto ao título me deram uma ideia errado do que se tratava, pensei num romance histórico. Sua resenha é mais esclarecedora e desperta a curiosidade.

    Amei as palavras de Tâmara ao final.

    Beijos,
    Mariana Baptista
    umavidaporlivro.wordpress.com

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    1. Realmente todos os componentes visuais conspiram contra o livro.

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  4. Sua introdução foi maravilhosa! As pessoas tem o péssimo hábito de julgar antes mesmo de se darem ao trabalho de entender sobre, tem muito livro bom apesar das ações do tempo sim! Adorei a resenha.



    www.notinhasderodape.com.br

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  5. Livro interessante, a temática quero dizer.
    Hoje menos que anteriormente, porque os amigos adotaram os livros eletrônicos, mas já ganhei caixas e mais caixas de livros. E tenho o hábito de distribuir alguns desses. Na verdade a maioria. Livro é energia que circula.
    Quanto ao preconceito literário, eu tenho. Jamais de maneira nenhum vou ler livro evangélico. Não tem nada que me faça ler aquilo. Agora espíritas, católicos, judaicos, li um escrito por uma muçulmana, falando sobre os preceitos da religião, fantástico. Sou contra a doutrinação, não contra informação.

    bjss
    Bel Góes - Conchego das Letras e Conchego Hot (conchegohot.blogspot.com.br)

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    1. Não curto e-books, até leio, mas nada melhor que ter em mãos o exemplar. Em relação ao preconceito, realmente preciso ampliar minha mente.

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  6. Nossa, um livro datilografado...
    Isso é uma preciosidade! rsrs

    Lindo post!
    http://conchegodasletras.blogspot.com.br/

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  7. Caramba, que jóia rara! Esse é o tipo de livro que dá orgulho de se encontrar! Amei sua resenha, soube explicar muito bem uma obra que carece de explicações mais profundas.

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  8. Nossa, gostei muito da sua resenha. As vezes a gente se surpreende com alguns livros não é?
    Grande abraço.

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  9. Há uns 6 anos atrás peguei vários livros deste jeito, pois um homem ia jogar fora um monte. Alguns consegui recuperar e ainda os tenho, inclusive alguns deles eu já li. É ótimo quando nisso surgem surpresas como esta sua. Um livro que eu não conhecia, mas que estarei anotando o título.
    Bjs, Rose.

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  10. Livros didáticos já são complicados, ultrapassados então, nem se fala. Eu também tenho o hábito de consertar livros velhos, adoro isso. Acho que seria interessante se todos os livro traduzidos trouxessem a apreciação do tradutor, afinal, nunca se sabe até que ponto a interpretação que ele fez da obra influenciou em seu trabalho de tradução. Adorei o post!

    Tatiana

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  11. Caramba!
    Realmente o livro é bem surpreendente e o título e sinopse não faz jus a toda a história que está por trás.
    Tão bem relata segundo o que você disse.

    Lisossomos

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  12. Gostei da questão de que você diz que receber livros didáticos antigos não é um presente... as pessoas ainda acham que fazem algo bom nos dando livros assim né. Mas tem realmente uns bons que podem se salvar. Sobre o título, mesmo que seja estranho eu achei até coerente porque antigamente era assim que se via, as pessoas não podiam escolher e eram obrigadas a aceitar qualquer um pelo dinheiro.

    Beijos,

    Greice Negrini

    Blogando Livros
    www.amigasemulheres.com

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  13. Amei sua resenha, amo livros antigos e tem aquele cheiro de nostalgia. Esse é um livro que guardaria com muito amor e carinho, sem contar que não deixaria ninguém pegar na mão rs.

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  14. Oiee

    Que resenha maravilhosa! Com certeza uma relíquia mesmo a ser muito bem guardada.
    Já li outros livros de Rochester e gostei muito.

    Fernanda
    http://pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  15. Oiee!!
    É muito triste quando encontramos livros tão maltratados, sendo que tratamos os nossos como bebezinhos *-*
    Adorei a resenha, e apesar de ser um livro antigo e deve conter uma escrita mais densa eu me interessei na trama!!
    Aborda um assunto bem interessante!!
    Beijos!!

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  16. Adorei a resenha, parabéns!

    Beijokas da Quel
    http://literaleitura2013.blogspot.com.br

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  17. Oi Ver\õnica
    Ser "leitor" é mesmo as vezes complicado. As pessoas tendem a cahar que você conhece tudo, já leu tudo e quer tudo,rs.
    Sobre livros antigos, eu sou meio rata de sebo, então tenho uns livrinhos dessa época da datilografia.
    Que bom que o livro te surpreendeu.
    Eu costumo gostar de livros espíritas pela visão que as vezes eles proporcionam, de sempre fazer o bem, das consequências dos seu atos e principalmente porque eles não costumam ser embuidos de doutrina religiosa.
    Guarde essa preciosidade com muito carinho, viu?
    bjs
    Luana Lima
    http://blogmundodetinta.blogspot.com

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  18. Oi.

    Amo livros antigos, todos mês vou à um Sebo e fico horas escolhendo os livros e os que mais gosto são os antigos, não sei o que eles tem, mas amo! Tenho preconceito literário, não leio livro de alto-ajuda nem morta, passo longe, não me dê um livro de alto-ajuda pra ler!

    Beijos

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  19. Oie
    nao leio muitos livros antigos mas quero ler alguns classicos esse ano e espero cumrpri minha meta pois estou precisando, bela resneha

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  20. Como é fácil a gente já ir julgando sem nem saber direito, né?
    Comecei lendo sua postagem e achando que nunca o livro entraria na minha lista, primeiro pelo título e depois por ser mediúnico - também não é um assunto que me chama a atenção. Mas ler sua resenha me fez pensar no livro com outros olhos... se tiver a oportunidade, sei que posso ler sem medo. No mínimo conhecerei um estilo diferente.
    Beijinhos,
    Lica
    amoreselivros.com.br

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  21. Olá!

    Adorei sua resenha! Já li esse livro provavelmente mais de uma dezena de vezes. No começo não sabia que era literatura espírita (embora eu seja espírita), tinha mais cara de romance histórico. Sou apaixonada pela história da Tâmara e a edição que eu li numa biblioteca (e depois comprei num sebo) é exatamente igual a essa sua, tenho um carinho todo especial por essa capa rs

    Abraços!

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